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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

O lastimável estado da educação - Afonso Leonardo

Avatar do autor julmar, 20.06.13

Quase todas as medidas, quase tudo o que se faz em Educação tem que dar maus resultados, traduzido num povo com analfabetos, pouco qualificado, mal educado. Como são muitos os governantes, como são muitos os legisladores, como são muitos os sindicatos, como são muitos os professores, como são vários os níveis de ensino, como são várias as modlidades de ensino, como são muitos os intervenientes do ato educativo quando se chega aos resultados ninguém é responsável por eles: nem os alunos, nem os pais, nem os professores, nem as escolas, nem os diretores das escolas, nem os políticos. É um sistema de completa irresponsabilidade em que os únicos que prestam contas, os únicos que são avaliados são os alunos. Parece-me que deveríamos tomar os resultados dos alunos como a avaliação dos seus educadores, na primeira linha os professores, pois o ato educativo é constituído pela relação professor-aluno. O professor, como qualquer profissional, só pode afirmar a sua qualidade pelos resultados que apresenta, quer em termos quantitativos quer qualitativos. Como existem muitos elementos que circunstanciam o ato educativo (as qualidades intrínsecas do aluno, o meio familiar, as políticas educativas, os recursos existentes, entre outras) o professor tende a atribuir os resultado a todas essas variáveis, sobretudo se o reultado é mau. Essa é, certamente, uma das razões por que os professores acham que os resultados dos alunos não devem entrar na avaliação dos professores. Mas, porque desconfiar dos resultados dos alunos se tal avaliação é feita pelos professores? 

Aceitar que a qualidade dos professores não tem efeito na qualidade de aprendizagem dos alunos é um disparate. Sabemos que os alunos não são todos iguais, que as turmas não são todas iguais, que as escolas não são todas iguais. Não são iguais porque umas são privadas e outras são públicas, porque os contextos sócio-económicos em que se integram são muito diversificados, porque umas são centrais e outras periféricas, porque umas têm corpos docentes estáveis e outras não.  Há turmas e escolas onde a vida de professor é fácil e outras em que é difícil. Porém, a política educativa não tem em conta estes fatos. A política do ministério da educação é uma política liberal, afirmando um princípio de igualdade traduzido numa legislação que coloca em plano igual realidades muito diversas. Tudo feito a partir de Lisboa central para o país inteiro. E por mais medidas de apoio social - SASE -, projetos avulsos vários, pacotinhos de leite ou medidas de apoio pedagógico que atenuem as diferenças, elas são sempre irrelevantes. Os melhores, ou pelo menos os professores com mais anos de serviço, estarão sempre nas melhores escolas e escolherão sempre os melhores horários, as melhores turmas e os melhores alunos. Isto é um pouco como se num hospital os casosmais difíceis fossem entregues aos médicos estagiários ou em princípio de carreira. Mas no Ministério da Educação é assim: os professores novos, em regra, ficam nas escolas onde o insucesso é maior, têm um horário letivo maior, ficam com as piores turmas e com os piores alunos. E, claro, ganham bastante menos. 

Tudo isto tem muito pouco a ver com democracia, procura do bem comum, com racionalidade pedagógica económica. Tem sobretudo a ver com a tradição, com o exercício do poder, com a ordem estabelecida. Poder dos governantes sobre os governados, poder dos velhos sobre os novos e conservação de quadros mentais autoritários.  Os sindicatos seguem, no essencial, a mesma lógica do governo porque dela são beneficiários e, nalgumas situações, são o maior travão à mudança como mostra o exemplo recente em que se opuseram a uma medida governativa que defendia uma majoração no tempo de serviço aos professores que fossem para zonas desfavorecidas.

Toda esta desresponsabilização se espelha no fato de não haver avaliação. Isto são contas do mesmo rosário. De um rosário longo. A desfiar brevemente.