A Grande Mudança, origem e história do pensamento moderno
julmar, 19.01.13
"A 17 de fevereiro de 1600, o dominicano despadrado (Giordano Bruno), de cabeça rapada, foi montado num burro e conduzido ao poste que tinha sido erguido no Campo de' Fiori. Recusara-se persistentemente a renegar durante as inumeráveis horas em que foi interrogado por vários frades e recusou arrepender-se ou permaneceu em silêncio até ao fim. As suas palavras não foram registadas, mas devem ter irritado as autoridades, pois ordenaram que lhe pusessem um freio na língua. E fizeram-no literalmente, segundo um dos relatos: colocaram-lhe um prego na bochecha atravessando a língua e saindo do outro lado, outro prego selou-lhe os lábios, formando uma cruz. Quando um crucifixo foi colocado de frente do seu rosto, ele voltou a cabeça. A fogueira foi acesa e fez o seu trabalho. Depois de queimado vivo, os ossos foram quebrados em pedaços, e as cinzas - as minúsculas partículas que, segundo acreditava, voltariam a entrar na grande e alegre circulação eterna da matéria - foram dispersas." pg 212
Este é um dos livros mais fascinantes que li até hoje, no que concerne a ideias de religião, ciência e filosofia. Claro que simpatizo com a perspetiva do autor, sinto-me do seu lado. Do lado dos que acreditam na liberdade, que recusam verdades impostas, que praticam a tolerância, que procuram a felicidade neste mundo, que procuram no conhecimento a destruição do preconceito e do medo. Do lado de Epicuro, de Leucipo, de Demócrito, de Giordano Bruno, de Copérnico, de Montaigne, de Galileu, de Darwin, de Einstein, de T. Jefferson, de Poggio Braccioli - o humanista caçador de textos clássicos que descobriu e divulgou o DE RERUM NATURA ( acerca da natureza das coisas), personagem à volta do qual se desenvolve o livro - do lado que levou às ideias do Iluminismo, à criação da ciência Moderna e da Física contemporânea. O outro lado é o lado dos mártires e dos algozes e dos que, com medo, assistem à barbárie. Ontem e hoje.