Os Vampiros - Zeca Afonso
julmar, 12.09.12
Estaríamos no ano de 1964. Seminário de Beja, coração do Alentejo. Tínhamos entrado para a sala de aula e aguardávamos a entrada do padre Lúcio, professor de Matemática. Chegou, de batina, e um riso nos lábios. Levou o indicador à boca e psch! Pediu-me para ir buscar um gira-discos. Colocou o disco que acabava de trazer da cidade e pôs-nos a ouvir Zeca Afonso. Não sei se foi um acto de loucura ou de coragem. Não recordo nenhuma aula de matemática mas nunca me esqueci desta.
No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas
No chão do medo
Tombam os vencidos
se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada