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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Eu, Kant e o Céu Estrelado

Avatar do autor julmar, 09.08.12

A maior parte das pessoas não tem hoje experiência da contemplação do firmamento. A electridade veio alterar de muitas formas a relação do homem com a natureza. Recordo vagamente a minha primeira experiência da comtemplação do firmamento pelos seis anos, sozinho na margem esquerda da ribeira de Alfaiates. Surpreendi-me a olhar o céu e a interrogar-me sobre as estrelas. Impossível agora saber as perguntas que me pus e os sentimentos que vivi. Ma sfoi um momento marcante e nunca mais parei de me interrogar e de ler sobre o assunto.

Hoje levantei-me tão cedo que surpreendi esse mesmo céu estrelado e que,  à medida que caminhava, em direção ao nascente, ia perdendo estrelas. Ao olhar o horizonte fiquei surpreendido com o ponteado de estrelas vermelhas que à medida que clareva percebi tratar-se de luzes sinalizando as pás das eólicas. Por fim, restou o Planeta Vénus, a que no meu tempo de infante chmávamos de Estrela do Pastor ou Estrela da Manhã. Isso me levou ao Planeta Marte e ao grande feito recente da amartagem do Curiosity Rover.

Assim, sai reforçada a minha comunhão com Kant da admiração e veneração do céu estrelado sobre mim e da lei moral em mim.

O célebre início da Conclusão da Crítica da razão prática(1788):

“Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre novas e crescentes, quanto mais frequentemente e com maior assiduidade delas se ocupa a reflexão: O céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim. Não as hei-de procurar e simplesmente presumir a ambas como envoltas em obscuridades ou no transcendente, fora do meu horizonte; vejo-as perante mim e religo-as imediatamente com a consciência da minha existência. A primeira começa no lugar que eu ocupo no mundo exterior dos sentidos e estende a conexão em que me encontro até ao imensamente grande, com mundos sobre mundos e sistemas sobre sistemas, nos tempos ilimitados do seu periódico movimento, do seu começo e da sua duração. A segunda começa no meu invisível eu, na minha personalidade e expõe-me num mundo que tem a verdadeira infinidade, mas que só se revela ao entendimento, e com o qual (e assim também com todos esses mundos visíveis) me reconheço numa conexão não simplesmente contingente, como além, mas universal e necessária. O primeiro espetáculo de uma inumerável multidão de mundos aniquila, por assim dizer, a minha importância como criatura animal que deve restituir ao planeta (um simples ponto no universo) a matéria de que era feita, depois de, por um breve tempo (não se sabe como) ter sido provida de força vital. O segundo, pelo contrário, eleva infinitamente o meu valor como inteligência por meio da minha personalidade, na qual a lei moral me descobre uma vida independente da animalidade e mesmo de todo o mundo sensível, pelo menos, tanto que se pode inferir da destinação conforme a um fim da minha existência por essa lei, que não se restringe a condições e limites desta vida, mas se estende até ao infinito.”