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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

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Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

A Excelência pelas ruas da amargura

Avatar do autor julmar, 26.09.11

Vem isto a propósito daquilo que já sabíamos acontecer mas que agora é confirmado pelo envio pela DREN para os CFAE´s : Avaliação das acções do Programa de Formação PTE – 2010 – Um quadro onde constam as classificações (numa escala de 1 a 10) atribuídas aos formandos que fizeram formação nos diferentes CFAE’s da DREN:

Excelente : 9-10; Muito Bom: 8-8,9; Bom: 6,5-7,9; Regular: 5- 6,4; Insuficiente: 1- 4,9

Na dúvida de que pudéssemos estar equivocados consultámos vários dicionários que nos dizem que a excelência: " é a superioridade ou o estado de ser bom no mais alto grau"; "qualidade do que é muito bom"; "grau máximo de bondade, qualidade ou perfeição" Entenderemos facilmente que o exercício perfeito de qualquer actividade requer esforço, persistência, intencionalidade, clarividência. Entenderemos facilmente que sempre que um conjunto de indivíduos se propõe alcançar uma meta a alcançarão em tempos distintos e que em qualquer concurso para realização de uma obra a perfeição que cada um nela alcança é distinta. A menos que a meta proposta seja tão simples que nem sequer justificasse colocá-la para aprendizagem visando o melhoramento das práticas docentes.

 Se existe uma escala de avaliação adequada é de supor que os indivíduos a quem é aplicada se distribuam na mesma de acordo com a curva de Gauss e que no caso que nos ocupa poderia ter a seguinte configuração:

  

                                Figura A

Para a elaboração deste gráfico pareceu-nos razoável a seguinte distribuição em %:

Excelente – 5; Muito Bom – 10; Bom – 70; Regular – 10; Insuficiente - 5

 

O normal, a menos que este caso fosse uma excepção à regra, seria que a maioria das classificações se centrassem no Bom e se distribuíssem para um dos lados em Muito Bom e Excelente e para o outro lado se distribuíssem em Regular e Insuficiente. Diria Aristóteles que essa é a natureza das coisas.     

Ora, tendo em conta os valores do Quadro de avaliações realizadas nos CFAE’s da DREN, obtemos o seguinte gráfico:

 

Figura B

Excelente – 73; Muito Bom – 21; Bom – 4,3; Regular - 0,3; Insuficiente – 0,3

           

Parece que , por vezes, precisamos mesmo de fazer um desenho para entendermos o caricato de situações tão óbvias.

No caso, bastará olhar para os dois gráficos. E ou recusamos todos os estudos feitos em torno da curva de Gauss para defender a validade da avaliação feita ou aceitando-a resta-nos assumir o ridículo. Por mim, surpreende-me que ninguém fique incomodado, que ninguém se interrogue, que isto seja considerado normal. Poderia dar-se o caso de se tratar de profissionais para quem o tema da avaliação fosse mais ou menos estranho. Mas não, trata-se exactamente dos profissionais que mais avaliam na nossa sociedade (quer se trate dos formadores/avaliadores, quer se trate dos formandos/avaliados).
A fazer fé nesta avaliação, os professores que frequentaram as acções «Ensino/aprendizagem com TIC na Educação Pré-Escolar e 1º CEB» e «Quadros Interactivos Multimédia no Ensino/Aprendizagem … (área disciplinar)» para os professores do 2º, 3º CEB e do Ensino Secundário» atingiram os objectivos expressos nos programas das respectivas acções de modo excelente (73%) e Muito Bom (21%). Pelo que está desfeito o lugar-comum de que «em todas as profissões há bons e maus profissionais». Em todas menos na classe dos professores onde há quase só excelentes profissionais. Estes resultados são um desafio ao senso comum (para não falar do bom senso) e à estatística.

O que até aqui se disse refere-se à média dos CFAE’s que constituem a DREN. Deste modo, há CFAE’s em que a excelência é quase total ascendendo à casa dos noventa e tal por cento.

Em termos de rede Os CFAE’s do Grande Porto Sul (Terras de Santa Maria, AVCOA, Aurélio Paz dos Reis e Gaia Nascente) ficam bem abaixo da média da excelência com 47,7%. Sendo muitos dos formadores comuns a outras redes, tratar-se-á de professores menos capacitados para as novas tecnologias? O que os divide? O rio Douro?

Não sabendo o que se passou em outros lados, a rede Grande Porto Sul fez uma reunião com os seus formadores para acerto de vários aspectos, incluindo a avaliação. E, para além das diferenças de classificações atribuídas nestes centros (derivadas de parâmetros específicos de cada um deles), não encontro outra explicação para o facto que não tenha sido o termos conversado sobre a necessidade da equidade na avaliação que passa necessariamente pela diferenciação.

Se não se fizer boa avaliação é preferível não fazer qualquer avaliação. O faz de conta, só vale quando brincamos.