MENSAGEM DE ABERTURA DO ANO LECTIVO PELO DIRECTOR
julmar, 20.09.11
“Que todos se formem com uma instrução não aparente, mas verdadeira, não superficial, mas sólida; ou seja, que o homem, enquanto animal racional, se habitue a deixar-se guiar, não pela razão dos outros, mas pela sua, e não apenas a ler nos livros e a entender, ou ainda a reter e recitar as opiniões dos outros, mas a penetrar por si mesmo até ao âmago das próprias coisas e a tirar delas conhecimento genuíno e utilidade. Quanto à solidez da moral e da piedade, deve dizer-se o mesmo.”
Didáctica Magna, 2ª ed. , Fundação Calouste Gulbenkian - Coménio
Como todos os inícios, o início do ano lectivo é a antevisão de um futuro que desperta nos seus intervenientes (pais, alunos, professores) uma amálgama de sentimentos – expectativas, medos, receios, desejos a que subjaz um sentimento de esperança.
E num céu onde mais do que azul sobram nuvens sombrias, é preciso imaginação para pensar a configuração de um futuro promissor que possa fundar uma esperança racional realizável no trabalho com sentido de professores e alunos com o apoio empenhado das famílias. Porque o trabalho educativo é de todos o trabalho mais importante: para cada aluno individualmente e para a sociedade no seu conjunto. A educação e o conhecimento constituem hoje a maior e mais sustentada riqueza das nações.
Com a globalização e as novas tecnologias a sociedade não mudou apenas, antes está em mudança contínua e num grau de aceleração crescente dominada pela instantaneidade e pela urgência. Aquilo que mais pressiona hoje os professores não é apenas a diversidade de tarefas a executar mas também a exigência objectiva de serem feitas em mínimos de tempos, o que se traduz subjectivamente na sensação de falta de tempo e num sentimento de mal-estar por julgarem não se encontrar à altura das suas obrigações.
As TIC integram-se nesta nova cultura da urgência e aceleração e aumentam esta desproporção entre o ritmo vital e as exigências. A propalada falta de autoridade de professores pode muito bem situar-se noutros lugares que não o da moral e da culpa dos alunos e das famílias. A referida desproporção poderá ser um deles. A autoridade do professor não se decreta nem se dá. Constrói-se um dia e outro dia, todos os dias. O que acontece é que o clima, factor essencial no processo educativo, é adverso a essa construção. O tempo que é dado ao professor não dá para ser autor, quando muito dá para ser actor mesmo faltando o tempo para os ensaios. A tirania da imediatez e do presente, impede ou obstaculiza a que a aprendizagem a que é inerente a dimensão do futuro possa servir de motivação ao trabalho escolar com sentido, pois como afirmava A. Tocqueville os indivíduos que «na medida em que deixam de situar as suas principais esperanças no longo prazo, tendem a querer realizar sem demora os seus mínimos desejos».
Que tem a ver a formação com tudo isto?
Na turbulência do fazer isto e aquilo se esquece o pensar e no esquecimento do pensar se esquece o essencial. Ora, como observámos acima o trabalho dos professores parece, quantas vezes, um serviço de urgência contínua. E quando só há tempo para o urgente deixa de se fazer o importante que, neste caso, é o ensino e a aprendizagem razão de ser da instituição escola. Ora, a formação deve ser o tempo e o lugar em que o professor faz balanço, pesa, pondera, questiona, avalia, projecta e o faz colegialmente, retomando o sentido do termo grego de escola – skholé - onde se praticava um ócio activo, a discussão livre, o aprendizado como experiência significativa, a resguardo das pressões externas.
Por isso, os votos para que cada professor encontre na formação o tempo e o modo de pensar e pensar-se e de construir-se como agente autónomo aperfeiçoando-se na mestria do nobre ofício de educador/professor.
Os votos para que cada escola construa a formação que a torne numa organização aprendente almejando níveis de qualidade crescentes numa melhoria continuada.
(…)
"Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."
Carlos Drummond de Andrade