Nuno Crato - Uma coragem colossal, Afonso Leonardo
julmar, 18.07.11
O estado em que se encontra a educação e o ensino constitui o mais grave problema com que o país se defronta. Grave porque fomos descendo, descendo sempre até ao presente lastimável em que nos encontramos; grave por que os autores do estado em que nos encontramos continuam a defender como remédios para esta doença crónica as mesmas medidas que a geraram; grave por se tratar de uma doença que impede o adequado funcionamento de todos os outros órgãos; grave porque uma geração mal-educada educará uma nova geração que será mal-educada também.
A educação que se faz é condicionada, antes de mais, por um conjunto de ideias gerais que constitui uma espécie de clima que (des)favorece o desenvolvimento de atitudes, comportamentos e ideias. Olhando para a nossa história bem sabemos como o nosso clima é ingrato e como foram muitos os que tiveram de escolher melhores ventos. Com o 25 de Abril apenas se mudaram alguns elementos do clima que melhorando num lado o pioraram noutro.
Nuno Crato reutiliza a palavra eduques para designar este tipo de clima.
Ora o que Crato fez, foi fazer a descrição do clima. O que outro qualquer também poderá fazer. Difícil (é possível?), muito moroso (conte com umas boas décadas) é mudar os elementos do clima. Defensor de ideias que pressupõem um clima diferente, pressionado pelas urgências do funcionamento da máquina ministerial, o agora ministro haverá de ter tanta influência no estado da educação como o que os metereologistas têm no estado do tempo.
Crato parte com enormes desvantagens para fazer qualquer alteração substancial: pelo que escreveu até hoje, porque colocando os pesos todos para o mesmo lado, vai-lhe ser difícil.
«Os bons professores sabem o que se deve fazer e tentam fazê-lo. Se às vezes não o fazem mais e melhor, essa limitação não se lhes deve. deve-se sim às imposições avulsas do Ministério, aos currículos desconexos, aos maus manuais escolares, a um ambiente de desrespeito pela cultura e pela educação» (pag. 121).
Concedendo o benefício de que não terá aceite o cargo de ministro por imprudência, só pode ser considerado um acto de uma coragem colossal.
(Ainda que todos saibamos o que acontece às coisas colossais, a começar pela que originou o nome)