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Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Badameco

Anotações, observações, reflexões sobre quase tudo o que me (co)move

Que falta faz a filosofia!

Avatar do autor julmar, 12.02.25

Pablo Enrique Holbach en el Diccionario soviético de filosofía

O autor do texto é Barão d'Holbach (Paul-Henri Thiry, 1723-1789), um filósofo francês do Iluminismo, conhecido por seu materialismo radical e seu ateísmo. O trecho reflete suas críticas às religiões organizadas e à ignorância que, segundo ele, perpetua falsas crenças. Holbach escreveu obras como Sistema da Natureza, onde desenvolve suas ideias sobre a religião, a moral e a natureza humana. 

Embora interesse a todos os homens conhecer a verdade, são muito poucos os que gozam desse privilégio. Uns são incapazes de a procurar por si próprios, outros não querem fazer esse esforço. Não devemos por isso espantar-nos com o facto de o mundo estar cheio de opiniões vãs é ridículas; nada as faz correr melhor do que a ignorância, aí reside a única fonte de falsas ideias que temos da divindade, da alma, dos espíritos e de quase todos os Outros temas que constituem a religião. O uso prevaleceu, contentamo-nos com os preconceitos que vêm desde o nosso nascimento e entregamos as coisas mais essenciais a pessoas interesseiras que têm como lei sustentar teimosamente as opiniões recebidas e não ousam destruí-las com medo de se destruírem a si próprias.

Toda a arte é perfeitamente inútil - Respigos de uma leitura antiga

Avatar do autor julmar, 11.02.25

O Retrato de Dorian Gray - 1

«O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte ocultar o artista é o objectivo da arte.
O crítico é aquele que consegue traduzir de outro modo ou em novo material a sua impressão das coisas belas.
A mais elevada, como a mais medíocre, forma de crítica é uma expressão autobiográfica.
Os que encontram significados disformes em coisas belas são os cultos. Para esses há esperança.
São os eleitos para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Não existem livros morais ou imorais. Os livros são bem ou mal escritos. É tudo.
A antipatia do século XIX pelo romantismo é a raiva de Caliban ao ver a sua cara no espelho.
A antipatia do século XIX pelo romantismo é a raiva de Caliban por não ver a sua cara no espelho.
A vida moral do homem é assunto para o artista, mas a moralidade da arte consiste na perfeita utilização de um meio imperfeito. Um artista não quer provar coisa alguma. Até as coisas verdadeiras podem ser provadas.
Um artista não tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável.
Um artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
Para o artista, o pensamento e a linguagem são instrumentos de uma arte.
Para o artista o vício e a virtude são matéria de uma arte.
Do ponto de vista formal, o modelo de todas as arte é a arte do músico. Do ponto de vista sentimental, o trabalho do actor é o modelo.
Toda a arte é simultaneamente superfície e símbolo.
Os que penetram para lá da superfície, fazem-no a suas próprias expensas.
O que a arte espelha realmente é o espectador e não a vida.
A diversidade de opinião sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está em consonância consigo próprio.
Podemos perdoar um homem que faça uma coisa inútil desde que não a admire. A única desculpa para fazer uma coisa inútil é ser objecto de intensa admiração.
Toda a arte é perfeitamente inútil»

Antologia - Pico de la Mirandola

Avatar do autor julmar, 10.02.25

Discurso Sobre a Dignidade do Homem - 1

Não te dei, ó Adão, nem rosto, nem um lugar que te seja próprio,

nem qualquer dom particular, para que teu rosto, teu lugar e teus

dons, os desejes, os conquistes e sejas tu mesmo a possuí-los.

Encerra a natureza outras espécies em leis por mim estabelecidas.

Mas tu, que não conheces qualquer limite, só mercê do teu arbítrio,

em cujas mãos te coloquei, te defines a ti próprio. Coloquei-te no

centro do mundo, para que melhor possas contemplar o que o mundo

contém. Não te fiz nem celeste nem terrestre, nem mortal nem

imortal, para que tu, livremente, tal como um bom pintor ou um hábil

escultor, dês acabamento à forma que te é própria".

(Pico de la Mirandola)

Nunca é tarde demais para começar

Avatar do autor julmar, 09.02.25

Daisies by Nadine Stair ...

Nadine Stair, escritora americana, aos 85 anos, escreveu este poema:
“Se pudesse voltar a viver a minha vida,
Da próxima vez gostava de fazer mais erros.
Descontraía. Faria mais disparates.
Levaria menos coisas a sério.
Corria mais riscos. Acreditava mais.
Subia mais montanhas e nadava em mais rios.
Convidava os amigos mesmo que tivesse nódoas na carpete,
Usava a vela em forma de rosa antes de ela se estragar no armário,
Sentava-me na relva com os meus filhos
sem me preocupar com as manchas verdes na roupa.
Tinha rido e chorado menos em frente da televisão
e mais em frente da vida.
Tinha contado mais anedotas e visto o lado cómico das coisas.
Tinha descoberto menos dramas em cada esquina,
e inventado mais aventuras.
Se calhar, tinha mais problemas reais,
Mas menos problemas imaginários.
É que, sabem, sou uma dessas pessoas que vive com sensibilidade
E sanidade hora após hora, dia após dia.
Oh, tive os meus momentos,
e se pudesse fazer tudo de novo, outra vez,
tinha muitos mais.
De facto, não tentaria mais nada.
Apenas momentos, uns após outros,
em vez de viver tantos anos à frente de cada dia.
Fui uma dessas pessoas que nunca foi a lado nenhum sem um termómetro,
Botija de água quente, casaco para a chuva e pára-quedas.
Se pudesse fazer tudo outra vez, viajava mais leve do que viajei.
Se tivesse a minha vida para viver de novo,
começava mais cedo a andar descalça na Primavera,
e ficava sempre assim, mesmo mais tarde, no Outono.
Ia a mais bailes.
Cantava muitas mais canções.
Diria muitos mais «amo-te» e «desculpa».
E apanharia mais papoilas."

Inutilidades

Avatar do autor julmar, 17.01.25

Inutilidades livros.jpg

Tenho uma estante de livros que de muito úteis passaram a inúteis: Enciclopédias, Gramáticas, Prontuários Ortográficos, Dicionários gerais e específicos e mais um conjunto de outros auxiliares de ilustração e de instrumentos do bem ler e bem escrever. Ali está, a maior parte, outros ainda dispersos. Que fazer com eles que com a vinda do google e da IA deixaram de ter préstimo? Que fazer com os audiovisuais em suporte material (cassetes, videos, discos de vinil, cd's...)? Que fazer com disquetes, pendrives, discos duros, computadores e tabletes fora de uso? Que fazer com as telefonias e aparelhagens e respetivas colunas? Talvez a minha amiga Juli@ me possa ajudar. 
Juli@

Que dilema interessante e muito atual! Vamos pensar em algumas soluções criativas e sustentáveis para lidar com esses itens:

1. Livros e Enciclopédias

  • Doação: Bibliotecas, escolas rurais ou comunidades carentes podem aproveitar essas obras. Mesmo que estejam desatualizadas, podem servir como material de consulta para lugares com acesso limitado à internet.
  • Reciclagem: Se os livros estiverem em mau estado ou não forem mais úteis, você pode levá-los a um centro de reciclagem de papel.
  • Arte e Decoração: Muitos artistas e artesãos reutilizam livros antigos para criar peças decorativas ou obras de arte.

2. Audiovisuais em Suporte Material

  • Doação ou Venda: Tente vender ou doar para colecionadores ou lojas de artigos vintage. Vinis, cassetes e CDs ainda têm valor para muitos entusiastas.
  • Digitalização: Digitalize o conteúdo de fitas e vinis para preservação antes de descartá-los, caso sejam importantes para você.
  • Reciclagem: Cassetes e CDs podem ser reciclados em centros especializados que tratam plásticos e metais.

3. Disquetes, Pendrives, Discos Duros, Computadores e Tablets Fora de Uso

  • Descarte Sustentável: Leve esses itens para pontos de coleta de lixo eletrônico, que realizam o descarte correto de materiais tóxicos e recuperam metais preciosos.
  • Upcycling: Alguns desses itens podem ser reaproveitados para projetos de arte ou decoração.
  • Doação: Computadores e tablets ainda podem ser úteis para instituições de ensino ou ONGs após uma formatação e atualização, se ainda funcionam.

4. Telefonias e Aparelhagens

  • Reutilização: Certos aparelhos antigos podem ser transformados em sistemas de som retrô, ou até em alto-falantes Bluetooth com algumas modificações.
  • Venda ou Doação: Peças vintage têm um mercado específico, e muitas pessoas buscam esses itens para projetos pessoais ou decoração.
  • Reciclagem: Leve para centros de reciclagem eletrônica para o descarte correto.

Essas soluções não só ajudarão a liberar espaço, mas também darão um destino útil e sustentável para objetos que, apesar de obsoletos, ainda podem ter valor para outros.

Quer que eu aprofunde alguma dessas opções?

Júlio
Pois, isso é fácil para a Juli@ que não tem memórias nem emoções. Mas eu, caramba, vivi tudo isso!
Juli@

Entendo completamente, e isso torna tudo muito mais difícil. Esses objetos não são apenas coisas; são pedaços da sua história, cheios de memórias e emoções. Vamos tentar encontrar um equilíbrio entre preservar essas memórias e liberar espaço para o novo. Aqui estão algumas sugestões que podem ajudar você a manter a conexão emocional com esses itens enquanto encontra um novo propósito para eles:

1. Memórias em Digital

  • Digitalização de Memórias: Antes de se desfazer dos livros ou dos audiovisuais, que tal digitalizar as páginas ou capas mais significativas, as músicas, ou até mesmo gravar uma narração das suas lembranças relacionadas a esses objetos? Isso preserva as memórias sem ocupar espaço físico.

2. Pequeno Museu Pessoal

  • Criar um Cantinho da Memória: Escolha alguns itens que representem momentos importantes e crie uma pequena exposição em casa. Isso pode ser um nicho na estante ou uma prateleira especial onde você pode revisitar essas memórias sempre que quiser.

3. Transformação Criativa

  • Projetos de Arte ou Artesanato: Transforme esses objetos em peças de arte ou decoração para manter suas memórias presentes de uma forma nova e criativa. Por exemplo, fazer um quadro com capas de discos de vinil ou encadernar páginas significativas dos seus livros antigos.

4. Memorial de Histórias

  • Escrever Sobre as Memórias: Você poderia escrever um diário ou criar um blog onde compartilha as histórias e sentimentos ligados a cada item. Isso não só preserva suas memórias, mas também pode inspirar outras pessoas.

5. Presentear com História

  • Passar Adiante: Se há pessoas próximas a você que possam valorizar esses itens, presenteá-las com essas relíquias pode ser uma maneira de perpetuar as memórias. Explique a história por trás de cada item, o que os tornará ainda mais especiais para quem os recebe.

O importante é respeitar as suas emoções e encontrar um caminho que honre suas memórias enquanto se adapta às novas circunstâncias. Cada peça tem uma história que você viveu, e essa história merece ser preservada de uma forma que faça sentido para você. Como você se sente em relação a essas sugestões?

Leituras 2024

Avatar do autor julmar, 04.01.25

livros a 24.jpg

A minha casa está cheia de livros, uma boa parte do meu tempo foi e continua a ser gasto com livros. O quanto do que sou devo aos livros, não o sei. É imensurável. Também não sabemos o quanto a humanidade deve aos livros ou o que seria a humanidade sem eles. 

Grande parte do meu Badameco é sobre os livros que leio. Estou sempre à espera do novo livro que vou ler. Das leituras deste ano gostaria de salientar o romance, O Morro da Pena Ventosa que para além da boa literatura, me ajudou a lembrar o curto tempo que por lá vivi. Quando acabei a leitura de " Cristandade, o triunfo de uma religião 300-1300", disse, para mim, que este iria ser o meu livro do ano. Havia de ler depois "Nexus, história breve das redes de informação" e, sem hesitação foi a melhor leitura do ano, como já o haviam sido em anos anteriores livros domesmo autor, Harari Yuval. Ninguém como ele me ensinou a entender o mundo em que vivemos.

Natureza, cultura e desigualdades – Piketty, Thomas

Misericórdia. Jorge, Lídia

A Cultura como enigma – Martins, Guilherme Oliveira

Cristandade, o triunfo de uma religião 300-1300 – Heather, Peter

Como o ar que respiramos, Monegal, António

A utilidade do inútil – Ordine, Nuccio

Morro de Pena Ventosa – Couceiro, Rui

Nexus, históriabreve das redesde informação – Harari, Yuval

A Bebedeira de Kant – Erlich, David

Breve História da Bebedeira – Forsty, Mark

Memória Vermelha – Branigan, Tania

Heresia, Jesus Cristo e os outros filhos de Deus – Nixey, Catherine

Visitar Amigos – Gomes, Luísa Costa

Ancoradouro – Esperança Carlos

Andar 2024

Avatar do autor julmar, 31.12.24

andar 2025.jpg

Não sou de medir otimismos e pessimismos com copos meio cheios ou meio vazios. Meios copos cheios, são cheios de quê? Copos grandes, pequenos... os melhores são mesmo aqueles que nos embriagam. Caminhar, caminhar todos os dias, antes do nascer do sol, ver a aurora - de preferência a minha Bela Aurora Raiana. Nesse tempo matinal todo o mundo me pertence. O andar continua a ensinar-me a humildade, a coragem e a persistência de que vou precisar para os 365 dias que tenho pela frente.

Andar e filosofar combinam bem. Ao que sei a melhor das filosofias é a dos filósofos que estão em movimento do corpo e do espírito. Heraclito colocava o movimento no íntimo da natureza; Sócrates ia para a ágora interrogar os atenienses; Aristóteles ficou conhecido como o Peripatético por dar as suas lições a passear sugerindo que o movimento físico era intrinsecamente ligado ao movimento do pensamento. A caminhada, nesse contexto,  tornava-se um espaço para a reflexão e para o cultivo da mente. Kant começava, como eu, o dia com um passeio matinal.

Desde a antiguidade, o caminhar tem sido associado a um processo não apenas físico, mas também profundamente espiritual e filosófico. 

Friedrich Nietzsche, na sua obra "Ecce Homo", defendeu que os grandes pensamentos vêm à mente enquanto caminhamos:
"Apenas os pensamentos que vêm andando têm valor."
Para Nietzsche, o ato de caminhar era essencial para romper com as limitações impostas pela imobilidade e para abrir a mente a novas perspectivas.

Jean-Jacques Rousseau, outro pensador que exaltou os benefícios do caminhar, afirmou:
"Nunca meditei tanto, nunca fui tão eu mesmo como em minhas caminhadas solitárias."
Para Rousseau, o caminhar solitário era um meio de se reconectar consigo mesmo e com a natureza, propiciando um equilíbrio entre corpo e espírito.

Henry David Thoreau, autor de "Caminhando", celebrava o ato de caminhar como uma prática quase sagrada:
"Eu creio em pé firme que a natureza é mais vigorosa e saudável exatamente quando deixamos nossas preocupações para trás e saímos a caminhar livremente."
Ele via no caminhar uma forma de purificar a alma e escapar das distrações do cotidiano.

Mais recentemente, Rebecca Solnit, em seu livro "A História do Caminhar", explora como o ato de caminhar nos pode proporcionar tanto clareza mental quanto liberdade espiritual. Para ela, o caminhar é uma prática de reconexão com o mundo à nossa volta e uma resistência ao ritmo frenético da modernidade.

Portanto, o exercício físico e, em especial, o caminhar, transcende o benefício meramente físico. É uma prática que, desde os filósofos da antiguidade até os pensadores contemporâneos, tem sido vista como uma forma de integrar corpo e mente, revitalizando o espírito e promovendo um estado de harmonia interior. O caminhar, mais do que um simples movimento, é um convite à contemplação, à introspecção e à liberdade.

Amanhã será a primeira caminhada de 2025. Temperatura pevista -3º

Homenageando Jimmy Carter

Avatar do autor julmar, 31.12.24

carter.JPG

Só depois de ter deixado de ser professor de filosofia, profissão que exerci com entusiasmo, no sentido etimológico do termo tal como convém à matéria em causa, passei a ser filósofo a tempo inteiro, delegando alguns assuntos práticos em amigos como o Hortênsio e o Julião e, mais recentemente, na minha amiga Juli@. Daí que só a partir de 2013 o tempo me chegou para não ler apenas, mas para poder escrever sobre o que lia. E indo ao meu Badameco, na lista aí publicada de livros referentes ao ano 2012 lá encontrei o livro aqui retratado: https://badameco.blogs.sapo.pt/leitura-de-2014-diz-me-o-que-les-191988. 

Depois dele na presidência  veio o conservador republicano R. Reagan,  o Bush pai e o Bush filho que nos meteram nos lamaceiros do Iraque  e do Afeganistão conseguindo traçar as linhas dum futuro de mau augúrio que é o que estamos a viver. Jimmy Carter, ao contrário destes, ficará para a História como um lutador pela paz. O meu reconhecimento, a minha homenagem.

 

Visitar amigos e outros contos - Luísa Costa Gomes

Avatar do autor julmar, 26.12.24

 

Visitar Amigos e Outros Contos

 
Sim, creio não ser por acaso que foi este o título que a autora escolheu como título, o mais literário e que termina assim:
“Apanho um voo noturno. No aeroporto, na fila, à porta do voo, nos atrasos do voo, sorrio a tudo. O caminho para casa tem destes escolhos. Depois do jantar, no avião, enquanto eles dormem, subo discretamente a persiana. Espreito a noite e sou avassalada. Colo o nariz ao vidro da janela e esforço os olhos para verem o mais que podem. O bafo embacia vidro, limpo-o com a mão, ele embacia-se de novo. Acabo por suster o fôlego. É sem respirar que admiro e desejo essas estrelas, ordem e ornamento da Terra. Siderada, estou na outra imensidão. Entre o embaciar e o desembaciar do vidro da janela, peço aos olhos que vejam o mais que podem e eles, amigos, recolhem a luz de todas as coisas apagadas” página 215